quarta-feira, abril 25, 2012

Graxa cor-de-rosa






Cansada de ser enganada por mecânicos, empresária abre oficina em Ceilândia destinada ao público feminino e ainda oferece bônus, como serviço de manicure e aula grátis em academia



As paredes lilases da oficina mecânica fazem o visitante desconfiar de que aquela não é uma loja como as outras do ramo. O clima é de delicadeza. Banners cor-de-rosa espalhados pelo galpão oferecem promoções de serviços de beleza. Ali, quem deixa o carro para reparos pode ganhar limpeza de pele, atendimento de manicure e pedicure, além de aulas grátis em uma academia de ginástica só para mulheres. Os bônus são distribuídos sempre ás terças-feiras.
Há dois anos e meio, a moradora de Ceilândia e dona do estabelecimento Agda Oliver, 31 anos, trocou o conforto do trabalho como gerente de contas em um banco pelo batente pesado de uma oficina mecânica. A decisão veio depois de uma decepção. Ela foi enganada por um mecânico, que cobrou mais de R$500 para fazer reparos simples no carro dela. Além disso, ele incluiu na lista de peças do orçamento itens que nem sequer existiam no veículo de Agda. A motorista só descobriu a farsa depois do serviço feito e pago.
Agda já alimentava o desejo de abrir o próprio negócio havia tempo, então decidiu inaugurar uma oficina voltada especialmente para o público feminino, na qual mulher nenhuma jamais seria enganada por falta de intimidade com o assunto. “Tem mecânico que vê uma mulher chegando e já enxerga o cifrão de dinheiro, se aproveita da falta de conhecimento”, reclamou. Para se preparar, fez cursos no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e foi à luta.
No início, a oficina não era temática, voltada ao público feminino. “Me aconselharam a dar um passo de cada vez”, lembrou Agda. Depois de um ano, a empresária resolveu colocar em prática a ideia inicial. Queria contratar mecânicas, mas não encontrou mulheres capacitadas para o serviço. Contratou dois homens, sempre com sua supervisão. A oficina abriu as portas na QNM 9, em Ceilândia. “Até hoje, os clientes homens têm resistência em conversar comigo sobre conserto de carro. Acham que eu não sei o que estou dizendo. Eu nem insisto, deixo eles falarem com um dos funcionários. Existe muito preconceito”, disse Agda.
Salão de beleza
A mecânica não se abala. Volta-se para o público: as mulheres. Enquanto esperam pelo conserto do carro, elas podem fazer a unha e receber outros cuidados de beleza, ali mesmo na oficina. “Quando tenho muitas clientes no mesmo dia, elas são atendidas aqui mesmo. Em dias de menos movimento, elas ganham um vale e podem ir ao salão de beleza ou á academia”, explicou a empresária. Agda tem o plano de montar toda a estrutura de um salão no mesmo local onde trabalha. Está em busca de parceiros interessados.
As mulheres aprovam a ideia. “Estava passando aqui na frente um dia e resolvi entrar. Virei cliente. Falar com uma mulher transmite mais confiança, a gente sabe que ela entende nosso lado e não vai enganar a gente. Além disso, qual a mulher não gosta de receber um agrado, fazer a unha, limpeza de pele, tudo de graça?”, afirmou a operadora de caixa Terezinha Estácio Mendes,38 anos, moradora de Ceilândia.
Agda leva os negócios a sério e quer se profissionalizar ainda mais. Faz faculdade de administração. Esse será o segundo diploma de ensino superior conquistado por ela. O primeiro foi em sistema de informação. “Descobri minha verdadeira vocação na mecânica. Não me importo que me vejam suja, pegando no pesado. Tenho vontade de sobra pra trabalhar”, disse Agda
A dona da oficina começa a multiplicar o conhecimento. Há três meses, contratou Rayane Costa, 19 anos, como mecânica. A jovem não tinha experiência, mas se interessou em aprender. “Sou muito curiosa e não acredito nessa separação entre profissão de homem e de mulher. Se eles podem aprender, por que nós não conseguiríamos?”, questionou Rayane.
O espírito empreendedor é uma característica em alta entre o público feminino de Brasília. Elas representam 42,5% dos empreendedores da capital do país, segundo o Anuário do Trabalho da Micro e Pequena Empresa, feito pelo Sebrae, em 2010.
Fonte: Correiobraziliense

0 comentários:

Postar um comentário

Clique na foto para saber mais