Cansada
de ser enganada por mecânicos, empresária abre oficina em Ceilândia destinada
ao público feminino e ainda oferece bônus, como serviço de manicure e aula
grátis em academia
As paredes lilases da
oficina mecânica fazem o visitante desconfiar de que aquela não é uma loja como
as outras do ramo. O clima é de delicadeza. Banners cor-de-rosa espalhados pelo
galpão oferecem promoções de serviços de beleza. Ali, quem deixa o carro para
reparos pode ganhar limpeza de pele, atendimento de manicure e pedicure, além
de aulas grátis em uma academia de ginástica só para mulheres. Os bônus são
distribuídos sempre ás terças-feiras.
Há dois anos e meio, a
moradora de Ceilândia e dona do estabelecimento Agda Oliver, 31 anos, trocou o
conforto do trabalho como gerente de contas em um banco pelo batente pesado de
uma oficina mecânica. A decisão veio depois de uma decepção. Ela foi enganada
por um mecânico, que cobrou mais de R$500 para fazer reparos simples no carro
dela. Além disso, ele incluiu na lista de peças do orçamento itens que nem
sequer existiam no veículo de Agda. A motorista só descobriu a farsa depois do
serviço feito e pago.
Agda já alimentava o desejo
de abrir o próprio negócio havia tempo, então decidiu inaugurar uma oficina
voltada especialmente para o público feminino, na qual mulher nenhuma jamais
seria enganada por falta de intimidade com o assunto. “Tem mecânico que vê uma
mulher chegando e já enxerga o cifrão de dinheiro, se aproveita da falta de
conhecimento”, reclamou. Para se preparar, fez cursos no Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e foi à luta.
No início, a oficina não era
temática, voltada ao público feminino. “Me aconselharam a dar um passo de cada
vez”, lembrou Agda. Depois de um ano, a empresária resolveu colocar em prática
a ideia inicial. Queria contratar mecânicas, mas não encontrou mulheres
capacitadas para o serviço. Contratou dois homens, sempre com sua supervisão. A
oficina abriu as portas na QNM 9, em Ceilândia. “Até hoje, os clientes homens
têm resistência em conversar comigo sobre conserto de carro. Acham que eu não
sei o que estou dizendo. Eu nem insisto, deixo eles falarem com um dos funcionários.
Existe muito preconceito”, disse Agda.
Salão
de beleza
A mecânica não se abala.
Volta-se para o público: as mulheres. Enquanto esperam pelo conserto do carro,
elas podem fazer a unha e receber outros cuidados de beleza, ali mesmo na
oficina. “Quando tenho muitas clientes no mesmo dia, elas são atendidas aqui
mesmo. Em dias de menos movimento, elas ganham um vale e podem ir ao salão de
beleza ou á academia”, explicou a empresária. Agda tem o plano de montar toda a
estrutura de um salão no mesmo local onde trabalha. Está em busca de parceiros
interessados.
As mulheres aprovam a ideia.
“Estava passando aqui na frente um dia e resolvi entrar. Virei cliente. Falar
com uma mulher transmite mais confiança, a gente sabe que ela entende nosso
lado e não vai enganar a gente. Além disso, qual a mulher não gosta de receber
um agrado, fazer a unha, limpeza de pele, tudo de graça?”, afirmou a operadora
de caixa Terezinha Estácio Mendes,38 anos, moradora de Ceilândia.
Agda leva os negócios a
sério e quer se profissionalizar ainda mais. Faz faculdade de administração.
Esse será o segundo diploma de ensino superior conquistado por ela. O primeiro
foi em sistema de informação. “Descobri minha verdadeira vocação na mecânica.
Não me importo que me vejam suja, pegando no pesado. Tenho vontade de sobra pra
trabalhar”, disse Agda
A dona da oficina começa a
multiplicar o conhecimento. Há três meses, contratou Rayane Costa, 19 anos,
como mecânica. A jovem não tinha experiência, mas se interessou em aprender. “Sou
muito curiosa e não acredito nessa separação entre profissão de homem e de
mulher. Se eles podem aprender, por que nós não conseguiríamos?”, questionou
Rayane.
O espírito empreendedor é
uma característica em alta entre o público feminino de Brasília. Elas
representam 42,5% dos empreendedores da capital do país, segundo o Anuário do
Trabalho da Micro e Pequena Empresa, feito pelo Sebrae, em 2010.
Fonte: Correiobraziliense