quinta-feira, janeiro 19, 2012

Em busca de um futuro promissor

Integrantes da nova classe média chegam às universidades com o objetivo de não repetir as profissões dos pais, muitos em atividades que dispensam qualificação



 A diarista Adeni Moura de Souza, 67 anos, está cumprindo à risca a sua promessa: diplomar todos os filhos. Para ela, não havia por que os seis rebentos repetirem a dureza do seu dia a dia, ainda que o trabalho honesto lhe tivesse garantido o sustento da família. A mais velha da tropa, Ednaciônia,44, prestará vestibular, neste ano para um curso de gestão público. Desde menina, a sua prioridade foi ajudar a mãe a educar os irmãos. Nesse esforço conjunto, teve, muitas vezes, de pegar a vassoura e o balde para fazer limpeza em várias residências. Sabia, porém, que, cedo ou tarde, romperia com o destino de seguir a profissão da mãe.
Cioni, como gosta de ser chamada, é só alegria. A sua libertação começou a se desenhar há pouco mais de dois, quando retomou os estudos. Determinada, mergulhou nos livros e acabou aprovada em um concurso para merendeira na cidade de Santo Antônio do Descoberto, entorno do Distrito Federal. “Nunca é tarde para irmos atrás do que queremos. Agora, estou com mais tempo para estudar”, diz. A mãe ainda não dá a missão por cumprida. “Quero pendurar o diploma dela na parede. Será a realização de um sonho”, afirma Adeni.
Como Cioni e os irmãos, mais e mais jovens, sobretudo os da nova classe média, estão recorrendo à educação como caminho seguro para mudar muitas histórias que pareciam estar com o fim sacramentado. Os que não tiveram a sorte de conseguir uma vaga em universidades públicas e não têm renda suficiente para bancar as mensalidades recorrem a financiamento bancários, certos de que, quando formados, ganharão o suficiente para honrar as dívidas.
Crédito
A maranhense Evarista Barbosa, 31, anos, não tem do que reclamar. Filha caçula de uma família com oito irmãos e natural de Paraibano – cidade situada a 503 Km da capital, São Luís, ela mudou- se para o Distrito Federal aos 18 anos, depois de concluir o ensino médio. Embora tivesse a convicção de que passaria sem dificuldades pelo processo seletivo da Universidade de Brasília (UNB), foi obrigada a buscar uma faculdade particular.
Até ingressar no curso de Letras, Evarista teve que dar duro. Trabalhou por mais de um ano em duas empresas, sem descanso nos finais de semana. Mas juntou dinheiro necessário para bancar a matrícula e parte das mensalidades. O complemento necessário veio por meio do Programa de Financiamento Estudantil (Fies), administrado pela Caixa Econômica Federal. Arcou com juros de 3,4% ao ano. “Mesmo com essa linha de crédito, não deixei de trabalhar. Tudo o que ganhava era para pagar a faculdade”.
Evarista foi a primeira pessoa em sua família a ter um diploma de terceiro grau. A determinação, conta, foi herdada da mãe, faxineira, e do pai, agricultor. “Éramos pobres e tivemos uma infância bastante difícil. Mas a prioridade sempre foi estudar”, afirma. O contato com a literatura veio quando, por volta dos cinco anos de idade, passou a acompanhar a mãe na rotina de limpar a única biblioteca da cidade em que moravam. “Eu dizia que ia ajuda-la, mas, quando chegávamos lá, ela me mandava ler livros. Acho que não desisti por ela e pelo meu pai”, diz. Formada em 2006 e trabalhando em uma seguradora, Evarista terá até 2018 para saldar o empréstimo com o FIES.
O analista de suportes Leandro Ribeiro, 30 anos, sabe muito bem o valor de um diploma. Aos 30 anos, o brasiliense ainda paga pelo estudo superior concluído há cinco anos. Sem condições de bancar integralmente a faculdade, ele também recorreu ao Fies para fazer o curso de sistema de informação em uma universidade. As parcelas, de R$ 216 mensais, só acabarão em 2015. Mas, para ele, esse custo é o menor dos problemas. “Para quem quer se formar, ter um diploma universitário e um futuro melhor, os juros são o que menos importa”, assinala.
Mas é preciso ter muito cuidado com as dívidas. ”Para fazer um financiamento, seja na Caixa ou em um banco privado, a pessoa tem que ser controlada. Sempre pensei: vou ter que pagar isso um dia”, diz Leandro. No caso dele, a receita para bancar os estudos sem sufoco foi fazer uma poupança durante toda a faculdade.
Fonte: Correio Braziliense





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