Antes disso, Maria exercia o papel de mãe em raros momentos. Não foi quando usou drogas durante a gestação de todos os filhos, os quatro mais novos na fase em que estava escravizada pelo crack. Nem também ao fumar a pedra na sala de pré-parto de uma das crianças. Nessa época, só lhe ocorreu o instinto materno quando se negou a amamentar os bebês. Não quis passar pelo leite o que já lhes havia transmitido no sangue.
Ainda assim, a herança dessa mulher de pedra está nos frutos de seu ventre. O que a medicina avisa em teoria sobre os riscos do uso do crack durante a gravidez, Maria agora enxerga com o seu olho bom (a visão do esquerdo ficou comprometida pela droga). Os quatro meninos — uma escadinha entre 5 e 13 anos — são ansiosos, agitados e têm dificuldade de concentração. Iniciarão este mês um acompanhamento psicológico.
No Distrito Federal, existem apenas três comunidades terapêutica que acolhem mulheres viciadas.Nos últimos 16 anos, a pastora Lúcia, como é conhecida entre as dependentes, já pegou nas mãos, beijou o rosto e se envolveu com as histórias de mais de 2 mil mulheres egressas das dorgas.Recebia as viciadas quando ainda não se ouvia falar do crack.Hoje, mais da metade de suas 24 internas fumava pedra. "Essa é a droga que transforma pessoas em animais", diz Lúcia, que tem como protocolo de tratamento chamar as internas de "meus bebês". "Elas estão em um processo de reaprender a viver.Perderam noções de higiene, de afeto", diz Lúcia, que adota nove meses como prazo para dar alta às suas meninas.
A Pastora já perdeu as conta de quantas viciadas se recuperaram.A Luta para renascer exige obstinação e diciplina.Faz parte desse processo cuidar do proprio corpo, aprender um oficio, ter capricho com a casa.
Fonte: Correio Web/Correio Brasiliense
0 comentários:
Postar um comentário